quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A Rússia é logo ali

Como todos puderam notar, ocorreu, no início do corrente mês, a eleição dos países que sediarão as Copas do Mundo de Futebol de 2018 e de 2022. E foi por pouco que o evento aconteceu. Muito se falou da possibilidade da escolha ser adiada em função dos inúmeros escândalos envolvendo os delegados das confederações: estes teriam recebido propinas para votar nessa ou naquela candidatura.

Mas bem sabemos que a FIFA não preza pelo excesso de escrúpulos e a eleição aconteceu à revelia do que ditaria o bom-senso numa situação como a descrita acima. Com isso, é evidente que as subsequentes escolhas de Rússia e Catar foram violentamente criticadas pela imprensa esportiva do mundo todo.

Essas vozes de protesto estão certas em praticamente todos os aspectos: de fato a entidade máxima do futebol mundial pautou sua escolha na possibilidade de produzir montantes astronômicos de dinheiro e não, como afirma seu presidente, na missão de expandir nosso querido ludopédio.

Foi espantosa, porém, a quantidade de jornalistas que questionaram a escolha da Rússia como sede por sua, dizem eles, falta de tradição no esporte bretão. Uma afirmação no mínimo estapafúrdia. E uma vez que este blog não versa sobre futebol, mas sim sobre a Rússia, vamos explicar aos desavisados periodistas o porquê dessa afirmação ser falaciosa.

Em primeiro lugar, o esporte mais popular da Rússia é o futebol. Em outras Copas - Japão/Coreia e E.U.A., mais precisamente -, o esporte gozou de popularidade ascendente no país-sede, mas em momento algum tornou-se o mais praticado ou apreciado. Já a Rússia desde os anos 30 deu grande importância ao futebol, até como instrumento ideológico.

Ademais, a União Soviética obteve duas medalhas de ouro nas Olimpíadas, marca que o Brasil, por exemplo, jamais obteve. Foi ainda campeã europeia em 1960 e vice em outras duas ocasiões. Rússia e Ucrânia são, além disso, um velho celeiro de bons jogadores, como os lendários Yashin e Streltsov, além de nomes mais recentes, como Pavliuchenko, Arshavin ou Zhirkov.

Dados os motivos acima, creio que nos parece injusta a crítica pautada neste argumento. Que a escolha foi feita visando ao lucro é inegável. Que a Copa poderia perfeitamente ser realizada na Inglaterra também dificilmente se poderia negar. Mas a afirmação de uma boa parte da imprensa esportiva nos parece muito mais fruto de um velho preconceito e do colossal desconhecimento, no Ocidente, de muito do que se refere à Rússia.

Certamente esses mesmos periodistas terão que se informar melhor sobre a inóspita e inexpugnável imensidão russa. Afinal de contas, a Rússia é logo ali.

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