Uma Janela para a Rússia
Окно в Россию
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
A Rússia é logo ali
Mas bem sabemos que a FIFA não preza pelo excesso de escrúpulos e a eleição aconteceu à revelia do que ditaria o bom-senso numa situação como a descrita acima. Com isso, é evidente que as subsequentes escolhas de Rússia e Catar foram violentamente criticadas pela imprensa esportiva do mundo todo.
Essas vozes de protesto estão certas em praticamente todos os aspectos: de fato a entidade máxima do futebol mundial pautou sua escolha na possibilidade de produzir montantes astronômicos de dinheiro e não, como afirma seu presidente, na missão de expandir nosso querido ludopédio.
Foi espantosa, porém, a quantidade de jornalistas que questionaram a escolha da Rússia como sede por sua, dizem eles, falta de tradição no esporte bretão. Uma afirmação no mínimo estapafúrdia. E uma vez que este blog não versa sobre futebol, mas sim sobre a Rússia, vamos explicar aos desavisados periodistas o porquê dessa afirmação ser falaciosa.
Em primeiro lugar, o esporte mais popular da Rússia é o futebol. Em outras Copas - Japão/Coreia e E.U.A., mais precisamente -, o esporte gozou de popularidade ascendente no país-sede, mas em momento algum tornou-se o mais praticado ou apreciado. Já a Rússia desde os anos 30 deu grande importância ao futebol, até como instrumento ideológico.
Ademais, a União Soviética obteve duas medalhas de ouro nas Olimpíadas, marca que o Brasil, por exemplo, jamais obteve. Foi ainda campeã europeia em 1960 e vice em outras duas ocasiões. Rússia e Ucrânia são, além disso, um velho celeiro de bons jogadores, como os lendários Yashin e Streltsov, além de nomes mais recentes, como Pavliuchenko, Arshavin ou Zhirkov.
Dados os motivos acima, creio que nos parece injusta a crítica pautada neste argumento. Que a escolha foi feita visando ao lucro é inegável. Que a Copa poderia perfeitamente ser realizada na Inglaterra também dificilmente se poderia negar. Mas a afirmação de uma boa parte da imprensa esportiva nos parece muito mais fruto de um velho preconceito e do colossal desconhecimento, no Ocidente, de muito do que se refere à Rússia.
Certamente esses mesmos periodistas terão que se informar melhor sobre a inóspita e inexpugnável imensidão russa. Afinal de contas, a Rússia é logo ali.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Akvarium
A vida nunca foi muito fácil para os músicos de rock na União Soviética. O Rock'n'roll, como produto cultural estrangeiro, era banido das rádios e televisões soviéticas. O acesso a esse tipo de música era clandestino e bandas como The Beatles, Pink Floyd e Bob Dylan entravam no território soviético por baixo da "cortina". Mesmo assim, um rapaz de Leningrado chamado Boris Grebenshikov, estudante de Matemática Aplicada, decidiu montar uma banda de rock em 1972, junto com seu amigo de infância Anatolii Gunitskii. O nome desta banda seria Akvarium. Com o passar do tempo outros músicos passaram a integrar o grupo e Anatolii deixou o Akvarium para seguir carreira no teatro. Apesar disso, muitas das letras de música da banda continuaram a ser de autoria de Anatolii.
No começo dos anos 80 o cenário do rock soviético era um pouco melhor, porém ainda era uma cultura basicamente underground. As autoridades não podiam mais negar o fortalecimento da contracultura que estava emergindo e passaram a permitir algumas apresentações esporádicas. Um fato curioso desta época: algumas bandas faziam shows acústicos em apartamentos, já que nem sempre dispunham de locais para fazer suas apresentações. É claro que quase sempre alguém denunciava os "baderneiros" e a polícia acabava com a festa. Foi nesta época, em 1981, que o Akvarium gravou seu primeiro disco, Sinii Al'bom. Mesmo com recursos precários de gravação, a banda lançou 10 discos até 1986. Em 1987 lançaram o álbum Ravnodenstvie pela gravadora oficial do regime, Melodiya.
O Akvarium chegou aos Estados Unidos: em 1986 foi lançado em terras ianques o disco Red Wave - 4 Undergrounds Bands from the USSR, que incluía seis músicas do grupo. Boris Grebenshikov foi convidado para participar de um projeto musical com diversos músicos ocidentais como, por exemplo, membros da banda Eurythmics, e lançaram em 1990 o disco Radio Silence. Com a banda inativa, os demais membros do Akvarium lançaram-se em carreira solo. Boris retorna à Rússia e renomeia o Akvarium para BG-Band, com novos músicos.
Em 1993 o Akvarium retorna com o álbum Lyubimie Pesni Ramzesa IV, procurando preservar o mesmo espírito das décadas de 70 e 80. A banda continua ativa até os dias de hoje.
Formação atual (clique em cima do nome para visualizar informações sobre o músico)
Boris Grebenshikov
Boris Rubekin
Alexander Titov
Andrei Surotdinov
Vladimir Kudryavtsev
Oleg Shar
Albert Potapkin
Oleg Goncharov
Alexander Berenson
Igor Timofeev
Fedor Kuvaitsev
Andrej Svetlov
Para discografia e mais informações, visite o site oficial (em russo, inglês, alemão e francês).
Um vídeo da fase mais recente do grupo, para fechar o post:
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Нога в ногу
Gol contra - Автогол (aftagol)
Cartão amarelo - Жёлтая карточка (jôltaia kártatchka)
Goleiro - Вратарь (vratar)
Juiz - Судья (sudiiá)
Estádio - Стадион (stadion)
Continua.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Centenário da morte de Lev Tolstói
- Anastacia Tolstoy e Rosamund Bartlett discutem no site da BBC sobre o legado de Tolstói.
- Colóquio "Tolstói 100 años" na Biblioteca Nacional de Buenos Aires.
- Exposição no Uruguai homenageia centenário da morte de Tolstói.
- Um gênio em busca de respostas.
- Tolstoi homenageado no Centro Cultural de Belem.
- Y en Rusia, aún lloran a Tolstoi.
- Una muestra de libros de Tolstoi conmemora el centenario de su muerte.
domingo, 21 de novembro de 2010
Leia o livro, veja o filme
Em alguns casos não estamos perdendo nada. Mas em muitos outros, verdadeiras pérolas perderam a chance de chegar até nossas mãos. E um desses casos é o filme cuja primeira parte, com legendas em inglês, segue abaixo.
Trata-se de Вий ("Viy"), filme de 1967 inspirado no conto homônimo de Nikolai Gógol. Estrelado por dois atores que eu particularmente adoro (Natália Varlei e Leonid Kuravliôv), a película foi dirigido por dois então estudantes de cinema, Konstantin Iershov e Gueorgui Kropatchov.
O filme é brutalmente fiel ao conto e me arrisco a dizer que, se não fosse produzido na URSS dos anos 60, certamente teria se tornado um dos maiores clássicos de todos os tempos do cinema de terror. Com a nossa atual febre por filmes de zumbis e monstros de todos os tipos, ainda há tempo de resgatar esse incrível clássico.
Nota 1: é possível baixar o filme com legendas em português no blog My One Thousand Movies.
Nota 2: o conto foi recentemente publicado pela Berlendis & Vertecchia na coletânea Caninos, com tradução da nossa colega Denise Sales e cotejo desse que vos escreve (embora creditado como Lucas Simonetti).
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
O artigo, esse desconhecido
Mas o que é um artigo?
De acordo com nosso querida Wikipédia, "artigos são palavras que precedem os substantivos para determiná-los ou indeterminá-los. Os artigos definidos (o, a, os, as), de modo geral, indicam seres determinados, conhecidos da pessoa que fala ou escreve. Os artigos indefinidos (um, uma, uns, umas) indicam os seres de modo vago, impreciso".
Em algumas línguas em que há declinação, o artigo serve também para determinar o caso, como por exemplo no alemão. No russo, a declinação é substantiva, e com isso os artigos acabaram perdendo essa função. Se você tiver a oportunidade de ver um russo falando português, vai reparar que vez por outra eles tropeçam no uso dos nossos artigos, o que é perfeitamente compreensível dada a inexistência dessa classe de palavras na língua russa.
Agora e se eu disser que o verbo "ser/estar" também não existe? Você ficaria um pouco confuso, mas eu logo o tranquilizaria: é mentira, o verbo "ser/estar" existe em russo, sim: быть [byt']. Mas ele fica elíptico no presente; ou seja, ele não aparece no presente. É mais ou menos com se em português eu disse "ele médico" ou "meu amigo aqui". Uma coisa meio Tarzan, dirá você. Mas de certa forma não deixa de facilitar as coisas. E você certamente não passará por aquela famosa aulinha de "verb to be" de todo e qualquer curso de inglês do universo conhecido.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Рок-н-ролл!
ESSE TAL DE ROCK'N'ROLL
Sim, como em quase todas as parte do mundo, existe rock na Rússia. Ah, pensou que só havia música clássica e modinhas de balalaika nas gélidas terras do leste? Se deu mal. Também há reggae, ska, punk, pós-punk, gótico, heavy metal, trip-hop, rap, boy bands, jazz... Confesso que foi essa descoberta que me incentivou a estudar russo. Não, não foi o Dostoiévski. E o mais incrível é que os caras são realmente bons.
Nos próximos posts irei escrever pequenas biografias das principais bandas de rock, tanto da época soviética quanto das mais atuais, com os respectivos links para sites. Grande parte das bandas disponibilizam letras das músicas e arquivos de video e audio para baixar, o que pode ser uma ferramenta bem útil nas aulas de russo, ou para estudar em casa. Mas seria muita "falta de sacanagem" fazer toda essa propaganda sem dar uma pequena amostra do que vem por aí. Seguem abaixo dois videos de duas das minhas bandas favoridas.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
O homem do Trololó
Legendas (?!) em inglês.
O que você provavelmente não sabe é a identidade desse que alguns chamaram de "o Silvio Santos russo". Trata-se de Eduard Khil' (Эдуард Хиль), cantor soviético/russo nascido em 1934 em Smolensk. Nosso simpático performer gozou de certa popularidade principalmente nos anos 70, mas com o fim da União acabou emigrando para Paris. E eis que no ano passado, a pândega interpretação de Khil' da canção "Я очень рад, ведь я, наконец, возвращаюсь домой" (Estou muito feliz por, finalmente, voltar para casa) caiu nas graças de ociosos internautas ao redor do planeta. Escrita por Anatoly Ostrovsky, a música tinha letra originalmente, mas os elementos "anti-soviéticos" nela contidos fizeram com que a composição ganhasse a agora mundialmente famosa forma final.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Animação, de novo
(Áudio em inglês)
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Sopa de letrinhas
Vamos usar o português como exemplo. Temos em nossa língua cinco vogais: a, e, i, o, u. Duas delas se desdobram em versões abertas e fechadas (o e e). Não temos encontros consonantais envolvendo muitas letras e geralmente os acomodamos interpolando vogais entre as consoantes, ora somente na pronúncia, ora também na escrita. Alguns exemplos: sport vira esporte; vodca pronunciamos vódica.
No russo temos dez vogais! Elas são divididas em duras e brandas. As primeiras são basicamente iguais às nossas. As últimas são antecedidas por um som de i breve. Com isso, temos:
Duras
А (igual ao nosso a)
Э (igual ao nosso e)
О (igual ao nosso o)
У (igual ao nosso u)
e seus pares, as
Brandas
Я (i breve + a = ia)
Е (i breve + e = ie)
Ё (i breve + o = io)
Ю (i breve + u = iu)
O equivalente russo da nossa letra i é o И, que é a vogal branda por excelência. Poderíamos definir, grosso modo, um som brando como um som que é produzido para fora da boca. Assim, o par duro do И é a letra Ы, que poderíamos descrever como o mesmo som produzido para dentro da boca. Alguns o descrevem também como o meio do caminho entre u e i.
É de fato um som um tanto chato. Possivelmente a única forma de reproduzi-lo fielmente é ouvi-lo pronunciado em músicas, filmes e correlatos. Uma dica é o filme Операция Ы (traduzido como "Operação Y"), famosa película soviética estrelada pelo trio conhecido como "os Três Patetas russos": Iuri Nikúlin, Gueorgui Vítsyn e Ievgueni Morgunov.
O trecho acima está com legendas em inglês e aos quatro minutos e quarenta segundos Nikúlin fala o nome do filme (Операция Ы). Dá para ter uma ideia da pronúncia da letra, além de ser uma boa oportunidade de conhecer as trapalhadas desse lendário trio.
Resumindo. As vogais duras são cinco: А, Э, Ы, О, У. E as brandas são também cinco, seus pares: Я, Е, И, Ё, Ю.